Esse governo Bolsonaro pensa em sobreviver com a ajuda do marketing. Afinal, foi com o apoio do marketing digital (e do Queiroz... da faca...) que conseguiu alpinar o Planalto. Agora, procura forte apoio marquetológico para vender a ideia de privatização das universidades públicas. Consegue ser algo abrutalhado e ao mesmo tempo sutil. Por exemplo, não fala em privatização. Preferem tratar de rentabilização da universidade pública, uma forma de pôr a cabecinha da privatização. A apresentação que fazem, com finalização do próprio ministro, pretende ser futurista, mas é bem passadista, cheia de erros, iluminação ruim, etc. O show-man chegou a dizer, em certo momento, "A gente não pode ficar acostumado em estar entre as 5, as 50 melhores da América Latina. A gente quer estar entre as 100 melhores". Chose de loque. De todo modo, a essência está lá.
Síntese do "Future-se", a partir da apresentação do MEC: 1) Universidades vão ganhar mais dinheiro na medida em que consigam vender mais seus produtos, patentes, saberes etc. É a morte da produção pública: IFES agora virarão base formativa plena para o mercado. 2) O que não for tecnologia ou inovação (99% dos exemplos dados pelo MEC) está fadado à Lei Rouanet e publicidade. Humanidades vão alimentar o "capitalismo social" (expressão deles) das grandes empresas. 3) Professores poderão ficar com parte do que venderem ao mercado. Sinal verde para fim futuro de valorização das carreiras. Morte das humanidades (de novo). Morte das pesquisas sem retorno econômico (de novo). 4) Patrimônio das universidades vai para fundos imobiliários para virar shopping (exemplo do próprio MEC). Fim da expansão física dos campi. 5) Valorização do esforço e da inovação via criação de start ups. Universitário terá, em primeiro lugar, o empreendedorismo dentro de si (palavras do MEC). Pesquisa, conhecimento, formação humana etc. ficam em segundo plano.
O negócio é tão sensacional que o ministro da educação já disse DE CARA que 70% dos projetos FRACASSAM de primeira. Que, dos 30% que sobram, metade fracassa de segunda. Que, dos 15% que sobram, 1/3 fracassa em seguida. Sim: o MEC apresentou um projeto no qual NOVENTA PORCENTO dos esforços, segundo o próprio MINISTRO, fracassam. E o verbo foi esse: "fracassar". Mas o Ministro disse que os 10% que de sucesso sustentarão os fracassados. O MEC usou a metáfora do Neymar. Sim: quer fazer com as universidades e institutos federais o que o Santos fez com Neymar.
Não escondem o projeto: o sucesso de meia dúzia de universidades vai financiar o fracasso das demais.
E humanidades, por exemplo, que não geram patente ou lucro, estão condenadas aos pingos que receberão do "capitalismo social".
Mas não só isso: as pesquisas não lucrativas de outras áreas dependerão da grana das lucrativas. Questão óbvia: frente à falta de recursos públicos, gestores preferirão expandir atividades lucrativas ou as não lucrativas?
Não precisamos de muito tempo para sacar que o future-se de alguns será o afunde-se de outros. E isso vai ter muita adesão das universidades e institutos. Com apoio de coleguinhas doidos para transformar seus estranhos ganhos em faturamento mensal...