12/07/2019 às 06h15min - Atualizada em 12/07/2019 às 06h15min

DAY AFTER DA REFORMA


O que significa exatamente o placar 379 x 131 que aprovou a reforma da Previdência? Por trás dessa verdadeira ordem unida que o grande capital impôs à dividida base parlamentar do governo Bolsonaro, unindo Centrão e PSL para passar o rolo compressor e aprovar a reforma, em primeiro lugar está o interesse privado do mercado financeiro e do agronegócio e em segundo lugar o interesse pessoal de quem votou a favor.
Na esteira da vitória neoliberal radical, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou, nesse mesmo dia, o fim da estabilidade do funcionário público e os empresários da CNI já cobram o avanço da agenda neoliberal radical, com mais privatização e redução de impostos para os ricos. O que almejam acima de tudo os grandes capitalistas é o rebaixamento extremo do custo da força de trabalho, mesmo que isso significa fazer retroceder a economia brasileira à superexploração dos trabalhadores e total falta de direitos sociais característicos do capitalismo internacional dos meados do século XIX.

O resultado da reforma, entretanto, não será o “equilíbrio das contas da Previdência”, conforme foi apresentado pelo governo apenas para justificar a sua aprovação perante a sociedade. Eles sabem perfeitamente que o resultado previsto e esperado será a montanha de lucros que os banqueiros auferirão. Pouco se importam com o outro resultado, que lhe segue obrigatoriamente. Trata-se do enorme aumento da desigualdade social, ainda pior porque se dará em cima da situação de precarização do trabalho e elevado desemprego. Não é exagero prever que a aprovação da reforma potencializará a produção de milhões de “refugiados sociais” internos, fruto da guerra de classe da oligarquia financeira contra o povo brasileiro.
A alegre comemoração de quem votou de bolso cheio, indiferente às consequências sociais do que aprovou, é parte da “comilança” com que a oligarquia financeira tritura os direitos da sociedade, sejam eles, econômicos, sociais, políticos ou individuais. A adoção do neoliberalismo radical, uma política econômica suicida para o futuro de qualquer nação, depende da existência de um regime fascista como foi o do Chile de Pinochet, ou autoritário, a caminho do fascismo, como é o de Bolsonaro.
Passado o clímax dessa “comilança”, a divisão das elites golpistas deve voltar e aquele que esperava sair como o “herói” do mercado, Rodrigo Maia, viu que foi usado apenas como escada para Bolsonaro subir no pódio dos banqueiros e receber a medalha de ouro da concentração de renda e esmagamento social.

No campo da oposição, a votação deixou claro que o PT, PSOL e PCdoB, que votaram 100% contra a reforma, são os partidos mais fieis aos interesses das classes trabalhadoras, os que formam o núcleo mais consequente da oposição democrática e popular. O PSB, com 34% e o PDT com 30% a favor da reforma, se revelaram partidos ideologicamente bastante heterogêneos, com a vacilação típica da centro-esquerda.
Entre o PT, PSOL e PCdoB não há divergências estratégicas significativas e estes partidos deveriam continuar marchando taticamente cada vez mais unidos na luta contra Bolsonaro e pelo restabelecimento do Estado democrático de direito, cuja pedra de toque é a libertação de Lula de sua injusta prisão. Essa é uma luta para ser ampliada com a participação do PSB e PDT e de outros setores partidários e sociais de centro.

A derrota no plano econômico pode ser contornada por vitórias parciais no plano político e ideológico, como é o caso de derretimento de Moro e da narrativa pseudo moralista do golpe. 

Val Carvalho
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