A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) propôs que o governo federal cobre o certificado de vacinação contra a Covid-19 como forma de liberar a entrada de viajantes no Brasil. A medida valeria para permitir a imigração por terra. Hoje as fronteiras estão fechadas, com algumas exceções. Mas Bolsonaro, que distorce dados sobre segurança e eficácia dos imunizantes, quer apenas abrir as fronteiras, sem cobrar o "passaporte da vacina", segundo integrantes do governo.
A ANVISA enviou parecer ao Palácio do Planalto no último dia 12, após ser questionada sobre a ideia de Bolsonaro, mas não recebeu resposta. Segundo relatos de integrantes do governo, a agência também sugere endurecer as regras para voos internacionais. A ideia é que viajantes façam quarentena de cinco dias, mesmo se apresentarem teste RT-PCR negativo para o novo coronavírus. A quarentena seria dispensada para quem estiver vacinado.
Hoje o governo cobra a apresentação do teste RT-PCR, mas não exige quarentena, apesar de a ANVISA sugerir esta medida há meses. Bolsonaro disse nessa quarta-feira, 24, que prefere abrir as fronteiras, mas não manda nas decisões da agência reguladora. Ele afirmou que conversou com o presidente da ANVISA, Antonio Barra Torres, sobre o tema. "Na minha parte, não decido, não mando na ANVISA, mas a gente não teria fronteira fechada", disse Bolsonaro. "Tem a questão da economia, turismo, um montão de coisas. E o vírus, já falei para vocês, tem de conviver com ele", afirmou ainda. Ou seja, para combater, teria que se contaminar – morrer ou não morrer seria apenas um detalhe...
A ideia da ANVISA é evitar que o aumento de casos da Covid-19 registrado na Europa, entre outros locais, também ocorra no Brasil. A agência também quer impedir que o país vire atrativo para turistas não vacinados. Já as regras para entrada no Brasil pelo mar são mais específicas e ainda não há permissão para transporte de passageiros de outros países. O governo deu aval apenas para cruzeiros internos.
Desde dezembro de 2020 o Brasil cobra a apresentação de exame RT-PCR para quem entra no Brasil por voos internacionais. A agência chegou a propor quarentena de 14 dias a todos esses viajantes, depois de cinco dias, mas o governo vetou.
As regras sobre a entrada no Brasil durante a pandemia são definidas por portarias assinadas pelos ministros da Casa Civil, Saúde e Justiça, com base em pareceres da ANVISA, ainda que recomendações da agência, como de imposição de quarentena, tenham sido ignoradas até agora. A portaria mais recente é de outubro e o governo abriu nova discussão sobre o tema para avaliar a liberação das fronteiras.
A ANVISA tem recebido alertas de especialistas sobre o risco de aumento de casos da Covid-19 no Brasil. Além disso, gestores do SUS pediram para a agência sugerir a adoção do "passaporte da vacina" a viajantes, especialmente no período das festas de fim de ano e Carnaval. Mas a agência disse que não decide sobre as regras de entrada no Brasil, o que cabe aos ministérios. A agência não confirmou nem negou que pediu a adoção do "passaporte da vacina".
A Saúde disse apenas que "os critérios para a entrada de estrangeiros ou brasileiros vindos do exterior ao país são elaborados de forma integrada e interministerial, visando sempre a segurança e o bem-estar da população brasileira." A Casa Civil não se manifestou – deve estar de quarentena...