21/11/2021 às 07h52min - Atualizada em 21/11/2021 às 07h52min

MISTÉRIO NO AR:

QUEM AJUDOU OLAVO DE CARVALHO A FUGIR?

 
Olavo de Carvalho, o astrólogo de Virgínia guru dos bolsonaros, perdeu o seu ganha-pão que tinha no PayPal. E o mundo inteiro tem que agradecer ao Sleeping Giants, aquele coletivo de ciberativistas que combate discursos de ódio e fakenews. O Sleeping Giants procura convencer empresas a removerem as suas propagandas veiculadas em meios de comunicação que publicam notícias falsas. Dessa vez, convenceu o próprio PayPal, aquela plataforma de pagamento digital.
 
Olavo andava por essas bandas brasileiras, estava internado há alguns meses na clínica Saint Marie, em São Paulo. Por que será que ele escolheu logo o Brasil dos Bolsonaros? Alguém será capaz de adivinhar?
O interessante é que no dia 11, Ovalo de Carvalho deixou repentinamente a clínica Saint Marie. E 13 foi a data em que um avião da FAB pousou no aeroporto Mac Arthur, de Long Island, Nova York.
A escritora Daniela Abade diz que o avião que fez o pouso em Nova York teria decolado de São Paulo às 12h38 do dia 13. Essa informação é incorreta, de acordo com os próprios vídeos que ela posta com o deslocamento da aeronave captado pelos radares.
Mas isso não invalida a hipótese que Daniela levanta, com base na sua fonte de Brasília. O radar capta o movimento da aeronave a partir de um ponto de Goiás, que ela afirma ser o município de São Gabriel, e o aplicativo registra o horário 03h38 (UTC).
UTC é a sigla de Coordinated Universal Time, o horário de referência no mundo. No fuso brasileiro (três horas a menos), meia-noite e 38 minutos. Como o voo teria tido origem em São Paulo, é provável que a decolagem tenha se dado cerca de uma hora antes, às 23h38 do dia 12 aproximadamente.
 
Daniela explica que a Aeronáutica impôs sigilo nesse voo — portanto, as informações que levantou tiveram como base a sua fonte e dados disponíveis nos aplicativos que rastreiam voos pelo mundo.
O avião da FAB chegou ao aeroporto de Long Island (código ISP), às 13h45 (UTC), 10h45 no relógio brasileiro. É um aeroporto menor, usado para voos domésticos, e aí está um indício de que tenha servido mesmo para levar Olavo de Carvalho. Desse aeroporto saem voos para Petersburg, no Estado da Virgínia, onde mora o guru do bolsonarismo.
 
No dia seguinte, a aeronave já estava no aeroporto JFK, também em Nova York, onde o ministro Fábio Faria embarcou para viagens em território americano — ele esteve inclusive em Austin, Texas, onde se encontrou com o empresário Elon Musk.
Daniela enfatizou em suas postagens que Olavo de Carvalho teria voado no avião de Fábio Faria, o que permitiu a ele fazer um desmentido agressivo:
"FAKE NEWS!! Não conheço Olavo de Carvalho, nunca o vi na vida e não fui de FAB para os EUA. Irresponsabilidade soltar maluquices na imprensa sem checar. É preciso investigar e punir esses devaneios que se espalham irresponsavelmente”, disse, num post no Twitter em que marcou as contas do Supremo Tribunal Federal e Polícia Federal, certamente tentando se antecipar à abertura de qualquer investigação.
Por que tanto alvoroço? O que ele diz não é mentira, a se considerar que Olavo tenha mesmo sido levado neste avião para os Estados Unidos. De fato, Fábio Faria não foi para os EUA em avião da FAB. Não se fala mais nisso.
A própria Daniela informa que Fábio Faria só entrou no avião em Nova York, depois que veio de Glasgow, na Escócia, onde tinha participado da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.
Fábio Faria poderia saber que o avião que partiu do Brasil para servi-lo a partir de Nova York teria trazido como passageiro Olavo de Carvalho? Talvez sim, talvez não – como contestá-lo?
Se o avião da FAB realmente conduziu Olavo de Carvalho, a responsabilidade maior é de quem autorizou a viagem sigilosa a partir do Brasil, com um passageiro que não é agente público e estava se furtando ao cumprimento de uma intimação da Polícia Federal.
 
Olavo de Carvalho estava obrigado a depor no inquérito sobre atos antidemocráticos aberto no STF, sob responsabilidade de Alexandre de Moraes.
O ministro da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, tem responsabilidade no caso? Certamente (repita-se: na hipótese de que Olavo foi mesmo o passageiro do voo). Mas é improvável que o tenente-brigadeiro Baptista Junior tomasse uma decisão dessas sem que houvesse pelo menos o conhecimento de seu superior hierárquico, Jair Bolsonaro, que é quem tem relação antiga e direta com Olavo de Carvalho.
 
O guru do bolsonarismo, tão presente nas redes sociais, ainda não se manifestou sobre a informação divulgada por Daniela Abade. Mas falou sobre sua saída do Brasil, numa vídeo postado em 16 de novembro, três dias depois do pouso do avião da FAB em Rhode Island.
“Estou em casa, a mesma de sempre. A história é muito breve: eu estava no hospital e me ofereceram um voo repentino. Eu fui, entrei no avião e viemos para cá”, declarou, sem mencionar a intimação da PF e sem dizer quem lhe deu carona.
 
A filha mais velha de Olavo de Carvalho, que não se relaciona com ele e acompanha o desdobramento da revelação de Daniela Abade, acha que a história tem fundamento.
"Até porque ele disse dia 8 ou 9 de outubro que estava aguardando outra cirurgia, sair assim correndo sem fazer a cirurgia foi muito estranho. E provavelmente ele estava com medo de ir em voo de linha pelo fato da Polícia Federal tê-lo intimado”, afirmou Heloisa de Carvalho.
 
A Polícia Federal tem caminhos para verificar se a Aeronáutica serviu para ajudar um investigado a se furtar do cumprimento de uma intimação. O primeiro passo é levantar quem viajou no Legacy prefixo VC99B, número de calda FAB2582, entre os dias 11 e 13. Mas, além disso, pode verificar câmeras do aeroporto e ouvir testemunhas. É o primeiro passo. E o passo a passo que vem a seguir é tranquilo. Ou não é?
 
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