17/07/2020 às 18h11min - Atualizada em 17/07/2020 às 18h11min

COORDENADOR DA FIOCRUZ CRITICA ORIENTAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

“NÃO HÁ BASE CIENTÍFICA PARA A CLOROQUINA”


Sem nenhum médico ou profissional de saúde no centro de decisões, o ministério da Saúde só reforça para o mundo as críticas que o Brasil  vem recebendo no combate à pandemia do coronavírus. O presidente Bolsonaro e o ministro da Saúde interino, general Eduardo Pazuello, mudam protocolos e seguem firmes na defesa da cloroquina no tratamento dos pacientes. 
Para quem não respeita a Ciência, pesquisadores e especialistas são considerados adversários na batalha contra a pandemia que  já matou 76.997 pessoas e contaminou 2.021.834 no Brasil, segundo o último relatório do consórcio de veículos de comunicação, divulgado no início da tarde dessa sexta-feira, 17 de julho. 
A última investida para forçar o uso da cloroquina foi contra a Fiocruz, reconhecida mundialmente como um dos principais centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para a saúde. Um documento recomendando à instituição a orientar o uso do medicamento foi enviado pelo secretário de Atenção Especializada, o coronel Luiz Otávio Franco Duarte. Nessa sexta-feira, o coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância da Fiocruz de Brasília, Cláudio Maierovitch, criticou a recomendação do ministério da Saúde sobre o uso da cloroquina no tratamento dos pacientes com sintomas leves da Covid-19. “A Fiocruz orienta profissionais, ela afirma que não há base científica para a cloroquina, pelo contrário, há evidências de que não deve ser utilizada. Mas, se recebe comunicado do Ministério da Saúde, não pode deixar de informar seus profissionais”, disse o pesquisador em entrevista à GloboNews. Maierovitc ainda disparou sobre o medicamento. “Internamente, é conhecido que não tem eficácia”. As discordâncias entre a Ciência e o governo Bolsonaro estão longe de terminar. Em entrevista à revista Veja, divulgada nessa sexta-feira, o general Eduardo Pazuello atacou algumas frentes científicas. Para o ministro da Saúde interino, paraquedista por formação, a testagem da população para  chegar ao diagnóstico da contaminação do coronavírus, não é essencial. Dessa vez, o alvo foi a Organização Mundial de Saúde que desde o início da pandemia recomendou a testagem em massa. O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, sempre foi firme nessa recomendação.  
"Nós temos uma mensagem simples para os países: testar, testar, testar. Teste todo caso suspeito." 
O general Pazuello acha que o procedimento certo é outro. “O diagnóstico é clínico, é do médico. Pela anamnese, pela temperatura, por um exame de tomografia, por uma radiografia do pulmão, por exame de sangue, podendo até ter um teste. Criaram a ideia de que tem de testar para dizer que é coronavírus. Não tem de testar, tem de ter diagnóstico médico para dizer que é coronavírus. E, se o médico atestar, deve-se iniciar imediatamente o tratamento", reafirmou à Veja. E aproveitou para atacar a estratégia do antigo aliado, agora ferrenho adversário, o ex- ministro Luiz Henrique Mandetta “Na última semana, o ministério da Saúde mudou o protocolo de combate à pandemia no Brasil, orientando pacientes a procurarem médicos mesmo com sintomas leves. Em um primeiro momento, a recomendação era esperar o agravamento dos sintomas para atendimento e assim evitar uma corrida aos hospitais e sobrecarregar a testagem, na época ainda escassa. No início, a população foi orientada a permanecer em casa mesmo com os sintomas da covid. E era para ficar em casa até sentir falta de ar. E, quando você tivesse falta de ar, ainda diziam para segurar mais um pouquinho. Matamos quantas pessoas com isso? Loucura. O porcentual de morte sobe para 70% ou 80%. E isso não está dito em lugar nenhum, principalmente por quem agora nos critica", disparou Pazuello. Questionado se era uma referência à Mandetta, o ministro interino respondeu. "Ele imaginava que a melhor coisa era ficar em casa até passar mal. Não vou dizer que ele estava errado ou que teve dolo. Na época era o que tinha de certo. Isso é a curva de aprendizagem. É uma doença nova, o Ministério da Saúde não tinha conhecimento do tratamento precoce, dos medicamentos que davam certo ou não e sobre quais medidas funcionavam. Ele fez um protocolo, e isso teve de ser modificado”. 
O general que caiu de paraquedas no comando do ministério da Saúde em plena pandemia da Covid-19 devia ter acreditado nas orientações dos especialistas e cientistas que estavam há meses trabalhando para atacar o coronavírus. O que ele tem a dizer dos governos da Alemanha e da Coreia do Sul que seguiram a OMS e adotaram a realização dos testes como prioridade para enfrentar a pandemia, isolaram os pacientes contaminados e conseguiram sair da crise muito antes do que a maioria dos países? Qual é a avaliação dele sobre o “amigo” de Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,  negacionista ainda quando a pandemia estava na Ásia e  do outro lado do Oceano Atlântico, que decidiu não testar a população para evitar que o mundo soubesse a real  gravidade da situação no país. Mas logo que o número de mortes e a contaminação dispararam, ao mesmo tempo que as pesquisas indicaram  que a péssima gestão do enfrentamento à pandemia estava fazendo um estrago na popularidade do governo, a poucos meses da eleição presidencial, Trump decidiu pela testagem em massa? Era tarde demais. Os Estados Unidos rapidamente subiram ao topo da tragédia, seguido pelo Brasil. O que Pazuello  acha do chefe dele, Jair Bolsonaro, que já está até sendo chamado de “mini Trump brasileiro”, estar sempre atrasado em relação às mudanças bruscas de Trump, e ter seguido firme na defesa da cloroquina, mesmo depois que o medicamento foi proibido nos Estados Unidos?
O ministro da Saúde interino afirmou, na entrevista, que vem fazendo consultas com comitês internacionais e ainda disse que consideram que o país está com o “protocolo número 1. O Brasil vai ser um exemplo positivo para o mundo. Usamos o que tem de mais moderno. Criamos critérios técnicos e seguimos em cima deles. Vamos ganhar essa guerra", concluiu o confiante general Eduardo Pazuello.
Ficou supreso com a inacreditável confiança de Pazuello? A explicação pode estar nas reuniões e conversas com o presidente Bolsonaro, que mesmo isolado desde que o testou positivo para o coronavírus no dia 7 de julho, não interrompeu a propaganda da cloroquina. Foi assim na transmissão ao vivo dessa quinta-feira. Sem máscara, Bolsanaro tentou explicar para quem estava assistindo porque quer que todos tenham acesso ao medicamento. Confundiu mais ainda porque nem ele sabia. E é claro que esse trecho da transmissão agitou a noite do Twitter.
Veja o vídeo para ver se você chega a alguma conclusão.



Leia mais na Veja e Revista Forum
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »