10/07/2020 às 17h28min - Atualizada em 10/07/2020 às 17h28min

​DESMATAMENTO RECORDE NA AMAZÔNIA EM JUNHO

A MAIOR DEVASTAÇÃO DOS ÚLTIMOS 5 ANOS


Um dia depois que o vice-presidente Hamílton Mourão foi pressionado pelos investidores internacionais sobre a política ambiental brasileira e a crescente destruição da Amazônia, saem números devastadores sobre a situação da floresta. Pelo 14º mês consecutivo, em junho o desmatamento na Amazônia aumentou 10,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados nesta sexta-feira, 10, foi a maior destruição registrada no mês de junho dos últimos 5 anos. No semestre, a alta da devastação já atinge 25%.
Na entrevista que o vice-presidente concedeu logo depois de ser cobrado pelos investidores dos fundos da Holanda, Japão, Noruega, Reino Unido e Suécia, Mourão, que é o presidente do Conselho da Amazônia, tentou amenizar as críticas. "É óbvio: eles querem ver resultado antes de retomar os investimentos. E qual é o resultado que podemos apresentar? É que haja efetivamente uma redução do desmatamento".
E agora Mourão? Como mostrar para os estrangeiros resultados positivos da política ambiental do governo Bolsonaro quando uma área de 1.034 km² da Amazônia foi destruída só no mês de junho de 2020? Comparada a 2018, a alta é mais vergonhosa ainda, 112%; e a de junho de 2017 é de 70%.
Alertas diários da destruição são enviados, em tempo real, pelo sistema Deter (levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia), do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para indicar as prioridades na fiscalização e no controle da devastação. De nada adianta, porque ao ser questionado pelos investidores sobre o avanço da pandemia nos territórios indígenas da floresta - outra grande preocupação da  comunidade internacional -, Hamilton Mourão afirmou que os indígenas deveriam ser "mais integrados" à sociedade e tentou tirar a culpa das invasões ilegais dos garimpeiros  pela contaminação nas aldeias. Segundo Mourão, muitos dos indígenas contraíram o coronavírus (Covid-19) quando foram para as cidades para fazer compras ou para receber os benefícios estabelecidos pelas leis brasileiras. Desde o início da pandemia, muitas denúncias foram feitas contra as invasões, mas não foram ouvidas pelo governo Bolsonaro. Nessa semana, o STF interveio e o ministro Luís Roberto Barroso determinou que o presidente cuide dos povos indígenas e estabeleceu cinco medidas para serem cumpridas, entre elas conter as invasões ilegais.
A gerente de ciência da ONG WWF-Brasil, Mariana Napolitana, disse à Reuters, que a “pressão está aumentando”. E repercutiu o relatório do INPE. “Os dados de desmatamento por si só já mostram que a gente tem uma situação muito complicada e fora do controle na Amazônia agora”.
 
A reunião virtual dessa quinta-feira, 9, com os investidores internacionais, foi marcada depois que executivos de grandes empresas brasileiras e do exterior enviaram uma carta ao governo Bolsonaro cobrando ações concretas contra o desmatamento no país. As embaixadas brasileiras na Europa, Japão e Estados Unidos também receberam essa cobrança, no final de junho. Mas o presidente Bolsonaro, na reunião do Mercosul, na semana passada, insistiu na tese que falam mal do Brasil sem fundamento e que está tentando “desfazer opiniões distorcidas” e que vai mostrar o que o governo tem feito para proteger a Amazônia e as nações indígenas.
Fica difícil acreditar nessa posição de Bolsonaro já que foi o seu próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que afirmou, durante a reunião ministerial do dia 22 de abril,  divulgada nas redes sociais, que o governo deveria aproveitar o período da pandemia do coronavírus para “passar a boiada” e fazer mudanças na legislação ambiental, que poderiam ser questionadas na Justiça. E foi justamente por essa fala, que, nessa quinta-feira, 9, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou que a procuradoria-geral da República se manifeste sobre o pedido de vários partidos para que seja aberto um inquérito contra Ricardo Salles.
 
Como explicar, também, aos investidores, que o governo Bolsonaro tem um ministro das Comunicações, que ao tentar defender a política ambiental, durante uma entrevista da CNN, comete um erro gravíssimo sobre os tipos e a localização das florestas brasileiras. Veja o trecho da entrevista que o ministro Fábio Faria “transfere” a Mata Atlântica do litoral para a Floresta Amazônica.



 
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