O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ), fez um pronunciamento, no início da tarde dessa terça-feira, no Palácio Laranjeiras, residência oficial, sobre a “Operação Placebo”, deflagrada no início da manhã, pela Polícia Federal, para apurar indícios de desvios na área da saúde no Rio de Janeiro, durante o combate à pandemia do coronavírus. Witzel afirmou que a operação foi “desproporcional ” e “fantasiosa”. O governador criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido): “Quero manifestar a minha absoluta indignação com o ato de violência que o Estado de Direito sofreu. Tenho todo respeito ao ministro Benedito Gonçalves, mas essa busca e apreensão foi construída com uma narrativa fantasiosa. O ministro foi induzido ao erro” — afirmou Witzel que se mostrou irritado com a busca e apreensão feita pela Polícia Federal. Contra-atacou e disse que o Brasil vive uma “nova ditadura” com Bolsonaro e quem deveria estar na cadeia é o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos- RJ). “Esse é um ato de perseguição política que se inicia nesse país e isso vai acontecer com governadores inimigos. O senador Flávio Bolsonaro, com todas as provas que já temos contra ele, que já estão aí sendo apresentadas, dinheiro em espécie depositado em conta corrente, lavagem de dinheiro, bens injustificáveis, ele já deveria estar preso”. Autoridades envolvidas na operação já pensam em tomar medidas mais drásticas contra a mulher do governador Wilson Wtizel, a advogada Helena Witzel. Segundo a jornalista Mônica Bergamo da Folha de São Paulo, entre essas medidas estariam as quebras dos sigilos bancário, telefônico e fiscal e até possíveis restrições à liberdade. A operação foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça e apreendeu no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador fluminense, telefones celulares e computador. Os mandados foram baseados em duas investigações conduzidas pela Lava-Jato no Rio e pelo Ministério Público Estadual. O nome do governador Wilson Witzel aparece relacionado com empresários e gestores suspeitos em desvios nos recursos destinados à pandemia. Um dos indícios foi obtido por promotores estaduais após ouvir durante seis horas, na semana retrasada, o ex-subsecretário estadual de Saúde, Gabriel Neves, que está preso. Outro indício que motivou as buscas e apreensões de hoje, no total de 12, foi uma prova conseguida nas investigações da "Operação Favorito", da força-tarefa da Lava-Jato há duas semanas, que relacionava o governador com o empresário Mário Peixoto, também preso. O empresário teria participação na Organização Social IABAS (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), que foi contratada para a instalação dos 7 hospitais de campanha para atender os pacientes com a Covid-19. Até agora só o Hospital do Maracanã está funcionando. Comprovantes de pagamento para o escritório da primeira-dama do Rio, Helena Witzel, embasaram a autorização do STJ. No pedido para a operação de busca e apreensão no Palácio Laranjeiras, na casa de Witzel, na Zona Norte do Rio, no escritório de Helena Witzel e no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado. o Ministério Público Federal afirma que os documentos demonstram um “vínculo estreito e suspeito entre a primeira-dama e as empresas de Mario Peixoto”. A PF também fez buscas na casa do ex-secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, que não saiu do governo. Ele agora é secretário especial de Acompanhamento do Combate ao Coronavírus, cargo que também tem foro privilegiado. A compra dos respiradores, valores e a não entrega dos equipamentos também estão sendo investigados. A denúncia é que os desvios chegariam a R$ 1 bilhão. Em nota, o governador Wilson Witzel negou as acusações e afirmou que “não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal.” Witzel também estranhou que “deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da república está devidamente oficializada”. O governador fluminense reafirmou que está à disposição da Justiça. E finalizou a nota: “Não abandonarei meus princípios e muito menos o Estado do Rio de Janeiro". Há informações de que o Palácio do Planalto cobrava uma operação contra o governador Witzel, ex-aliado que agora é um dos alvos de Bolsonaro. No vídeo da reunião ministerial, de 22 abril, Jair Bolsonaro chamou o governador de São Paulo, João Dória, de “bosta” e Wilson Witzel de “estrume”. As cobranças teriam sido feitas ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Com a PF sob nova administração, que tem ligações diretas com a família Bolsonaro, a operação contra Witzel foi deflagrada. E foi anunciada, nessa segunda-feira, pela deputada federal Carla Zambelii (PSL-SP) muito ligada a Bolsonaro. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Zambelli disse que teriam operações contra governadores. “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam na boca para sair e não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar talvez de “covidão” ou não sei o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”. Como a deputada Carla Zambelli sabia dessas operações? O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) questionou no Twitter. “O fato da deputada bolsonarista Carla Zambelli saber de uma operação sigilosa da PF contra um governador de oposição mostra que estamos diante de uma primeira experiência de polícia política em um governo autoritário e golpista. A PF não é guarda presidencial”. A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), também repercutiu na rede social. “Bolsonaro escalou a crise. Na reunião ministerial disse que iria intervir na área de segurança. Partiu pra cima dos governadores. Chamou Witzel de ‘estrume’, Dória de ‘bosta’. E Damares defendeu a prisão de governadores. Enfim, parece que a política pautou a polícia”. O líder da minoria no Congresso, deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), anunciou providências para apurar o possível vazamento da operação. “Vamos representar ao MPF para que investigue para quem a operação contra Witzel foi vazada! Denúncias de desvios devem ser investigadas, mas como a aliada do presidente adiantou o fato? Sinal de que as interferências de Bolsonaro já são realidade. A PF não pode ser aparelhada!” O filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também deu indícios sobre a operação contra o ex-aliado Witzel. Nessa segunda-feira à noite, em sua conta no Instagram, o senador Flávio Bolsonaro criticou gastos do governador fluminense e sugeriu irregularidades. Com o título "ABSURDO", a postagem afirma que o governador gastou R$ 233 milhões para construção de 1.300 leitos em hospitais de campanha. Já a prefeitura teria gastado R$ 10 milhões para construção de 500 leitos. "Alguma coisa errada que não está certa", escreveu o senador Flávio Bolsonaro também investigado pelo MP Estadual por irregularidades no gabinete dele na Assembleia Legislativa do Rio, quando era deputado estadual, e por enriquecimento ilícito. Ao ser questionado sobre a operação contra Wilson Witzel, o presidente Bolsonaro respondeu : "Parabéns à Polícia Federal. Fiquei sabendo agora pela mídia. Parabéns à Polícia Federal, está ok?" Quanto à antecipação da operação que teria sido feita pela deputada Carla Zambelli, Bolsonaro respondeu: “Vai perguntar a ela”.